Eis aí uma pergunta que, pelo menos uma vez, todo missionário
transcultural já deve ter tido que responder.
Visitando diversas igrejas no Brasil e compartilhando a respeito do nosso ministério de proclamação da Palavra de Deus aos povos africanos, a esposa e eu temos ouvido esta pergunta com certa frequência.
Por alguma razão, pessoas se sentem desconfortáveis com a ideia de que um indivíduo abrace desafios num contexto distante, enquanto há a manifestação de desafios, em certo sentido, semelhantes em seu ambiente originário.
Normalmente, diante da apresentação dessa pergunta, temos procurado responder tendo em mente as seguintes razões:
Porque é bíblico
A atitude de alguém que sai da terra natal para levar o Evangelho a outras nações é, antes de tudo, sustentada, inspirada e ordenada pelas Escrituras.
O fato é que a Bíblia é essencialmente um livro missionário e como tal requer que o povo do caminho concentre seus esforços no anúncio da glória de Deus também entre aqueles que estão distantes.
Abraão foi o pioneiro a ter que deixar sua casa para se tornar bênção para as famílias da terra (Gênesis 12.1-3), cumprindo assim os projetos missionários divinos. Depois dele, muitos outros personagens bíblicos seguiram seu rastro, tanto no Antigo como no Novo Testamento.
Sair da própria terra para levar o Evangelho aos que estão distantes não se trata de uma proposta humana. Não é modismo, heroísmo ou tentativa de expansão religiosa. O trabalho missionário transcultural é vontade e propósito de Deus! A tarefa missionária da Igreja, antes de qualquer outra coisa, é bíblica.
Porque o Mestre mandou
O missionário vai aos lugares mais distantes do planeta a fim de anunciar o Evangelho em obediência a Jesus. Não se trata prioritariamente de responder a desafios maiores ou menores que os encontrados em sua pátria, mas de se submeter à ordem expressa de Jesus para anúncio do Evangelho entre todas as nações. Essa não é a única base do nosso envolvimento com missões (já que o assunto é bíblico e reafirmado em cada livro das Escrituras), mas é preciso reconhecer que o Mestre não sugeriu ou solicitou, Ele nos mandou fazer discípulos de todas as nações: Portanto, ide e fazei com que todos os povos da terra se tornem discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a obedecerem a tudo quanto vos tenho ordenado. E assim, Eu estarei permanentemente convosco, até o fim dos tempos. Mateus 28.19-20.
Aquele que nos mandou ir tem toda autoridade no céu e na terra. Sendo assim, devemos nos submeter à sua autoridade obedecendo à sua convocação a fim de alcançarmos também os que estão distantes.
Por uma questão de exemplo
Quando olhamos para trás encontramos em toda a história bíblica e eclesiástica o exemplo de homens que cumpriram com obediência o chamado missionário divino. De fato, o Evangelho chegou até nós porque esses valentes do passado compreenderam que a Igreja é a agência missionária de Deus para o mundo.
É saudável lembrarmos com frequência que foi por meio do desprendimento e da obediência dos missionários estrangeiros que o Evangelho chegou ao nosso país. Eles saíram de suas terras deixando para trás desafios presentes em seu próprio contexto. Antes de desembarcarem no Brasil é possível que também tenham ouvido de seus compatriotas: “Por que ir tão longe se aqui por perto há tanta necessidade?” Não obstante, saíram com coragem e vieram nos trazer o Evangelho.
Hoje, tendo sido alcançados pelo Evangelho, parece que o mínimo que podemos fazer é reproduzir o exemplo, assumindo esse mesmo tipo de iniciativa em relação aos demais povos.
Para impedir o avanço das trevas em outras partes do mundo
Os povos sem o testemunho do Evangelho estão perdidos espiritualmente e vivendo na escuridão. Em contrapartida, as falsas religiões continuam avançando e, em muitos casos, gerando oposição e perseguição aos cristãos.
Há contextos onde a obra da cruz de Cristo ainda não é conhecida e uma das consequências é que de maneira explícita Satanás é tido como rei e permanece recebendo adoração que não lhe é devida.
É importante dizer que quando nos omitimos de pregar a Palavra de Deus, estamos consentindo que gerações inteiras permaneçam na escuridão. Dessa forma, não podemos permanecer indiferentes enquanto temos todas as condições para interferirmos nesses cenários e fazermos com que as trevas sejam dissipadas.
Por uma questão de coerência
Recentemente, sentei-me com o meu pastor, Hélio da Rocha Netto, em seu gabinete e, ao considerarmos a presença da Igreja em nosso bairro, identificamos mais de vinte igrejas locais em uma única rua. Esse fato faz parte da realidade de outras ruas da cidade do Rio de Janeiro e também de muitas outras ruas de outras cidades do nosso país. A questão que vem à mente diante desse quadro é: “Se o acesso ao Evangelho é tão abundante em nossas cidades, por que não compartilhá-lo com aqueles que ainda não o receberam?”
Se o Evangelho é, de fato, boas novas, e há muitos que sequer tiveram acesso a ele, acredito que não podemos omiti-lo aos tais. Se o fizermos, seremos os mais insensíveis e os mais incoerentes de todos os homens, mesmo que não houvesse uma ordem tão explícita para pregarmos o Evangelho ao mundo.
Será que é justo que alguns recebam do Evangelho em abundância enquanto outros não recebem nada? Foi em resposta a esse cenário que o apóstolo Paulo escreveu: Sempre fiz questão de pregar o Evangelho onde Cristo ainda não era conhecido, de forma que não estivesse edificando sobre um alicerce elaborado por outra pessoa. Romanos 15.20.
Por uma questão de estratégia
Por mais incrível que pareça, existem povos que nunca ouviram o Evangelho e precisam ser focalizados pela Igreja de Jesus Cristo a fim de serem evangelizados. Eles representam nações inteiras intocadas pelo trabalho de evangelização da Igreja e ignorantes da revelação especial de Deus. São seres humanos que vivem em ignorância espiritual, mergulhados na idolatria e arraigados nas falsas religiões. São vítimas da fome, da pobreza, das doenças, das guerras e da impossibilidade de conhecerem a graça divina, revelada em Cristo Jesus.
Os povos não alcançados são aqueles que não possuem uma comunidade nativa de crentes em Cristo, com números ou recursos adequados para evangelizarem seu próprio grupo sem a ajuda de missionários transculturais. Eles representam uns 2,3 bilhões de pessoas com muito poucas possibilidades de ouvirem e crerem no Evangelho de Cristo.
Considerando a tarefa inacabada do anúncio do Evangelho entre todas as nações, o desafio que mais se destaca, para a Igreja de nossa geração, é exatamente anunciar o Evangelho aos que ainda não ouviram.
Porque é um privilégio
Aquele que deixa o seu lar para seguir para terras distantes a fim de proclamar o Evangelho é um mensageiro da paz e pode estar se tornando um pioneiro no trabalho de levar as boas novas de Cristo aos que ainda não ouviram. Tenho enorme alegria em dizer que o maior investimento que fiz na minha vida foi dedicar a minha juventude ao anúncio do Evangelho (já se vai mais de uma década!). Pois a obra missionária é um grande privilégio para quem pode experimentá-la e investimento garantido para a eternidade; certa é a recompensa! Entendemos por meio da teologia bíblica que esse ministério não foi dado aos anjos, mas aos discípulos de Jesus. Portanto, trata-se de um grande privilégio que o Senhor tem reservado para nós. O apóstolo Paulo destacou esta verdade em Romanos 10.15:
E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: “Como são maravilhosos os pés dos que anunciam boas novas!.
Por todas estas razões, vale a pena alcançar aqueles que estão longe de nós!
(Extraído do e-book Reflexões de um Apaixonado por Missões, de Jairo de Oliveira).
2 comentários :
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